Leonardo Manzan explica que o IBS e a CBS alteram a dinâmica fiscal dos contratos financeiros de longo prazo, especialmente aqueles utilizados em projetos de infraestrutura, energia e operações estruturadas entre empresas. Esse tipo de contrato envolve compromissos multianuais, indexadores variáveis, antecipações de fluxo e mecanismos de reajuste que dependem diretamente da estabilidade tributária. A reforma, ao unificar tributos sobre consumo, não atinge apenas operações tradicionais de compra e venda, mas também contratos financeiros que se apoiam em prestações sucessivas e liquidações periódicas.
Alterações de incidência e reorganização contratual explicadas por Leonardo Manzan
De acordo com Leonardo Manzan, a substituição de tributos atuais por IBS e CBS modifica o momento de incidência e o cálculo dos créditos fiscais associados a contratos de longo prazo. Em operações como financiamento de projetos, contratos de confissão com amortização vinculada a receitas e mecanismos de cash sweep, a definição do fato gerador é decisiva para evitar divergências entre a apuração contábil e a interpretação fiscal. A reforma exige reavaliação das estruturas de liquidação e das cláusulas que tratam de encargos, tarifas e projeções financeiras.
Adicionalmente, contratos que previam repartição de tributos já extintos precisarão de ajustes específicos para recompor a lógica econômico-financeira. A falta de atualização desses instrumentos pode gerar disputas entre as partes, sobretudo quando há expectativa de neutralidade tributária e manutenção do equilíbrio econômico previsto no início do contrato.

Revisão de cláusulas financeiras e estabilidade normativa
Contratos financeiros de longo prazo são sensíveis à mudança de regras. Indexadores como IPCA, tarifas regulatórias, receitas futuras e escalonamentos de pagamento podem ser afetados caso a carga tributária incidente sobre as parcelas varie ao longo do tempo. A previsibilidade, elemento central desse tipo de operação, depende diretamente da forma como o IBS e a CBS serão aplicados na fase de transição e após sua plena vigência.
Nesse cenário, a atualização de cláusulas de reajuste, repasse de custos e compensações torna-se fundamental. As empresas precisarão verificar se os parâmetros de cálculo presentes nos contratos continuarão válidos no novo ambiente tributário. A ausência de revisão pode gerar assimetria entre o valor econômico originalmente estimado e o valor efetivo após a transição tributária.
Digitalização da apuração e cruzamento de dados
A implantação do portal unificado do IBS e da CBS marca uma nova fase na fiscalização dos contratos financeiros. O cruzamento eletrônico entre documentos fiscais, registros bancários e declarações digitais permitirá que inconsistências sejam detectadas com rapidez. Para contratos de longo prazo, a conciliação contínua entre projeções financeiras e créditos tributários torna-se central.
A digitalização aumenta a necessidade de controles robustos. Empresas que operam com captações estruturadas, operações de project finance ou contratos de receita futura precisarão alinhar suas bases financeiras e fiscais para evitar divergências que possam resultar em glosas de créditos ou questionamentos administrativos.
Impacto nas estratégias de financiamento e precificação
A depender da forma como os créditos do IBS e da CBS forem reconhecidos ao longo da cadeia, os projetos financiados podem sofrer alterações em sua taxa interna de retorno. A previsibilidade do fluxo de caixa é essencial para financiadores, especialmente em operações vinculadas a recebíveis ou garantias reais. Se a reforma não estabelecer critérios claros para o aproveitamento de créditos nas etapas que financiam o ativo, a atratividade do investimento pode diminuir.
Por outro lado, a padronização dos processos fiscalizatórios e a simplificação prometida pelo IVA brasileiro podem reduzir volatilidades e litígios ao longo do ciclo contratual. Leonardo Manzan observa que a consolidação de normas claras permitirá que financiadores e empresas ajustem seus modelos de risco com maior precisão, fortalecendo a solidez das operações estruturadas.
Contratos financeiros no ambiente pós-reforma
A transição para o IBS e a CBS representa um dos maiores desafios para os contratos financeiros de longo prazo firmados no Brasil. A necessidade de adaptação simultânea de cláusulas econômicas, mecanismos de reajuste e obrigações fiscais exige coordenação entre áreas jurídicas, financeiras e contábeis. Leonardo Manzan nota que a construção de um ambiente normativo estável é o caminho para garantir segurança às partes envolvidas e preservar a lógica econômico-financeira desses instrumentos.
Com regras claras, integração digital e previsibilidade da carga tributária, o país pode fortalecer modelos de financiamento estruturado e ampliar a capacidade de investimento em setores estratégicos. Para Leonardo Manzan, o novo sistema tem potencial para aumentar a eficiência, desde que a implementação seja feita com coerência técnica e diálogo entre fisco, mercado e agentes reguladores.
Autor: Nairo Santos
