Enquanto muitos negócios sucumbem diante da instabilidade, um grupo seleto de empresas parece navegar com serenidade por cenários turbulentos. A resposta está longe de fórmulas mágicas — e mais perto de algo simples, mas negligenciado: disciplina financeira.
Em momentos de crise, é comum ver empresas buscando soluções rápidas. Cortes emergenciais, renegociações apressadas, redução drástica de investimentos. Mas os negócios que resistem com firmeza compartilham um mesmo padrão: foram disciplinados mesmo quando não havia urgência para isso.
“Disciplina financeira não é um mecanismo de defesa. É um estilo de gestão. E, quando ela está incorporada à cultura da empresa, as decisões difíceis já foram feitas muito antes de a crise chegar”, afirma Robson Gimenes Pontes, especialista com mais de 20 anos de atuação em estruturação financeira e planejamento estratégico.
Robson defende que a previsibilidade operacional, a modelagem de cenários realistas e a clareza nas políticas de alocação de recursos são os três pilares que separam empresas resilientes das vulneráveis. Para ele, as companhias que enfrentam turbulências com menos ruído são aquelas que já vinham construindo musculatura nos bastidores — muitas vezes, longe do radar do mercado.
“Tem muita empresa que cresce na manchete, mas desmorona no financeiro. Porque o crescimento sem disciplina é como construir um prédio sobre um terreno fofo. A estrutura não aguenta o próprio peso”, observa.
Segundo o especialista, a disciplina não se restringe ao corte de gastos. Trata-se de criar processos consistentes de decisão, alinhar o time a uma visão de longo prazo e recusar atalhos que parecem rentáveis no curto prazo, mas corroem a base da empresa.
Em suas consultorias, Robson é conhecido por estruturar modelos que simulam não só a expansão, mas também os choques. “Crescer é ótimo, mas você precisa saber o que vai acontecer se o crédito encolher 20%, se a inadimplência dobrar ou se um fornecedor-chave falhar. Isso precisa estar no radar antes da crise, não depois”, explica.
A lógica é simples: quanto mais madura a gestão financeira, menos drásticas precisam ser as decisões nos momentos difíceis. Não é à toa que muitos fundos de investimento avaliam não apenas o faturamento atual da empresa, mas sua governança financeira e capacidade de projeção realista.
“Uma empresa disciplinada atrai bons parceiros, porque transmite confiança. E confiança não se constrói com carisma — se constrói com consistência”, finaliza Robson.
Autor : Nairo Santos